Europa Vê-se Grega com a Grécia (Ou a História de uma Moeda Única)
Há certas histórias que, mal começaram, já se lhes adivinhamos o fim. Os livros do Júlio Dinis são um bom exemplo disso: acho que à quinta página d' Os Fidalgos da Casa Mourisca já tinha percebido os amores e desamores que iriam ser relatados nas restantes 435 páginas. A história da moeda única não será assim tão óbvia, mas os sinais estavam lá para o cidadão observador (tal como estavam para o leitor atento d' Os Maias).
Para quem não se lembra, a Grécia ficou de fora do primeiro pelotão do euro. Reino Unido, Dinamarca e Suécia também não entraram, mas por opção própria. No caso grego, o afastamento deveu-se ao não cumprimento dos critérios que ficaram para a posteridade como os de Maastricht. Em 1998, era o único país que apresentava um défice orçamental superior a 3% do PIB; e também os critérios de estabilidade dos preços, das taxas de juro e da taxa de câmbio não haviam sido preenchidos.
Ainda assim, quando, a 1 de Janeiro de 2002, as novas notas e moedas entraram em circulação, a Grécia teve direito às suas, com navios, gregos famosos e deuses da mitologia. O que provavelmente era um mito é que o país tivesse conseguido reunir as condições impostas. O que, aliás, é verdade para outros países, Portugal incluído. Ou melhor, os números estavam lá, mas, neste caso - como, de resto, em tantos outros -, a viagem é mais importante que o destino. Por exemplo, o critério da estabilidade orçamental foi cumprido em Portugal muito à custa da descida das taxas de juro, que permitiu uma redução dos encargos com a dívida pública; como o défice era o total e não o primário, serviu. Ou seja, não fomos obrigados a fazer aquilo a que agora somos obrigados, com muito mais sacrifício e numa situação económica fragilizada. Isto para não mencionar os actos de criatividade na contabilidade nacional!
Diz a sabedoria popular que aquilo que nasce torto só se endireita - se se endireitar! - tardiamente. O euro nasceu a 16 de Dezembro de 1995, na Cimeira de Madrid. Quiseram os alemães que ele viesse substituir o ECU, acrónimo de European Currency Union, mas também a designação de uma antiga moeda francesa... Escolheram euro, uma palavra neutra entre Estados-membro e, por isso, passível de agradar a todos. Curiosamente, a todos excepto aos gregos, para quem euro se lê "évró", cujo plural soa "évrá", ou seja, urina.
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